CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
Município de Oliveira do Hospital
CENTENÁRIO DA REPUBLICA
Município de Oliveira do Hospital
O Município de Oliveira do Hospital, no âmbito das Comemorações do Centenário da República Portuguesa leva a efeito o lançamento de uma colecção de selos que tem como desígnio recordar alguns dos mais expressivos símbolos republicanos do concelho: os bustos alusivos à República existentes nos Paços do Concelho, a acta do livro das Sessões da câmara Municipal redigida no dia de 7 de Outubro de 1910, o monumento erigido aos Mortos da Grande Guerra, as mais antigas bandeiras Republicanas hasteadas no município de Oliveira do Hospital e personalidades como Anthero Dias Alte da Veiga ou Joaquim Ribeiro do Amaral, que se destacaram pela sua actividade cívica em prol do ideário republicano.
De pendor eminentemente cívico e didático, esta proposta filatélica pretende contribuir para perpetuar na memória colectiva os ideais republicanos que emergiram da revolução de 5 de Outubro de 1910.
Hoje como Ontem, os ideais da laicidade do Estado e da democratização do acesso à educação e à cultura continuam a ser a base de uma intervenção cívica empenhada na construção de uma sociedade saudavelmente livre e genuinamente igualitária e fraterna.
COLECÇÃO DE SELOS - CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
O busto da República
A I República adoptou vários símbolos destinados a criar uma imagética republicana. De entre estes símbolos, destacam-se a bandeira, o hino e os bustos femininos. Estes últimos, inspirados na Marianne francesa, representavam a Mãe-República retratada por uma mulher jovem e bela, de barrete frígio na cabeça. O busto da república mais prodigamente popularizado terá sido criado pelo escultor Simões de Almeida (Sobrinho). Contudo vários outros artistas esculpiram diferentes modelos do busto da república que se propagaram pelo país. Nos Paços do Concelho de Oliveira do Hospital é possível encontrar três destas peças, todas de autoria e data não identificadas.
O jornal Noticias da Beira
Voz da Beira, Gazeta da Beira e Noticias da Beira foram três jornais publicados na região de Oliveira do Hospital no início do século passado. O último dos periódicos citados, administrado por Vasco Guerra e dirigido por Manuel Telles, no seu segundo número, datado de 6 de Outubro de 1910, foi o primeiro a editar, no concelho, a notícia sobre a proclamação da República em Portugal. Curiosamente, a primeira página desse número relata o assassinato, em Lisboa, do médico e líder republicano Miguel Bombarda, e apenas nas páginas interiores, o mesmo semanário destaca, como notícia de última hora entretanto anunciada por telegrama oficial do novo governador civil de Coimbra ao administrador do concelho, a instauração da República e a constituição do Governo Provisório presidido por Teófilo Braga
A acta do Livro das Sessões da Câmara Municipal, redigida no dia 7 de Outubro de 1910
A proclamação da República no concelho de Oliveira do Hospital ocorreu no dia 7 de Outubro de 1910, embora seja possível confirmar que a notícia era conhecida na região pelo menos desde o dia anterior. O facto ficou registado no livro de actas das sessões da Câmara Municipal, documento que ainda hoje se encontra nos seus arquivos. A data de 7 de Outubro foi depois escolhida, no dia 10 de Novembro de 1910, pela nova comissão municipal presidida por Joaquim Ribeiro do Amaral, para assinalar o feriado municipal do concelho de Oliveira do Hospital.
A primeira bandeira da República
Referência significativa da imagética da I República, a bandeira verde e rubra foi institucionalizada pelo Governo Provisório em 29 de Novembro de 1910, após alguma polémica entre os políticos do novo regime. A primeira bandeira republicana conhecida no município de Oliveira do Hospital apresentava já o verde-escuro e o escarlate, sendo o seu centro preenchido com o brasão de armas do concelho. Hoje encontra-se exposta no Museu Municipal Dr. António Simões Saraiva, na Bobadela. A tradição diz que foi içada na sede do concelho, no dia 7 de Outubro de 1910, data da proclamação da República em Oliveira do Hospital, mas esta informação carece de confirmação histórica.
Joaquim Ribeiro do Amaral
O primeiro presidente da Comissão Municipal republicana de Oliveira do Hospital terá nascido por volta de 1850 e pertencia a uma linhagem de onde saíram diversos presidentes da Câmara – era sobrinho de um outro Joaquim Ribeiro do Amaral, aquele que deu o nome ao largo central da antiga vila e que esteve à frente do concelho por duas vezes, nas décadas de 1850 e 1860. Eleito a 27 de Outubro de 1910, sucedeu a António Correia da Fonseca, o último autarca desta câmara municipal no tempo da monarquia. Foi presidente da Câmara até 31 de Dezembro de 1913, tendo, nas últimas três semanas do seu mandato, desempenhado o cargo em acumulação com o de Administrador do Concelho. Terá ocupado igualmente os cargos de conservador do Registo Predial de Oliveira do Hospital e de juiz em Seia e residido, com a sua família, na então designada Casa da Fonte, habitação que ainda hoje se ergue na cidade e que terá adquirido à família de Afonso Costa. Faleceu no hospital de Coimbra, em Abril de 1919.
Anthero Dias Alte da Veiga
Nasceu no ano de 1866 em Cerdeira (Arganil). Entre Dezembro de 1910 e Julho de 1911, este militante do ideário republicano desempenhou o cargo de Administrador do Concelho de Oliveira do Hospital, tendo sido um dos primeiros representantes do governo da República neste município. Após abandonar o cargo, foi um dos fundadores do jornal A Folha de Oliveira, que tinha entre os seus redactores os militantes republicanos Alberto Moura Pinto e António Neves. Foi ainda administrador dos concelhos de Miranda do Corvo e, porventura, da Pampilhosa da Serra, para além de escrivão-notário, cônsul de Portugal na Corunha, poeta e guitarrista afamado. Morreu em Mogofores em 1960.
A bandeira republicana da Bobadela
O espólio do Município de Oliveira do Hospital integra uma velha bandeira republicana que resistiu às agruras do tempo e que terá sido desfraldada, em Setembro de 1911, pelos republicanos locais, junto ao arco romano da Bobadela. Na madrugada de 30 de Setembro de 1911, no contexto de episódicas e inconsequentes sublevações realistas que eclodiram a norte do país, ocorreu, em Avô, um levantamento monárquico justamente consagrado na história local como a «Monarquia de Avô». O picaresco episódio não durou mais de 48 horas, pois os sublevados foram logo dominados pelo regimento de Infantaria 23 que chegou à vila acompanhado por civis armados. Estancada esta rebelião, os republicanos da Bobadela terão desejado confirmar a sua fidelidade à república hasteando a sua bandeira.
O monumento aos combatentes da
I Grande Guerra
A participação de Portugal na I Guerra Mundial, ao lado das forças Aliadas contra as Potências Centrais, constituiu um dos momentos mais trágicos e decisivos da I República. Foi defendida por Afonso Costa e o Partido Democrático, mas também por António José de Almeida e sectores do Partido Evolucionista, com os argumentos de que garantia a preservação das colónias, unia os portugueses em torno de uma causa patriótica e legitimava internacionalmente a jovem república. Mas tal decisão acabou por agravar as discórdias entre as hostes republicanas, acelerar a agudização da crise económico-social e política e determinar o caos na ordem pública nacional. O culto aos mortos da I Grande Guerra nasceu em 1919, por iniciativa da Junta Patriótica do Norte, que propôs a construção de memoriais nos concelhos nacionais. E ganhou um renovado impulso, entre 1921 e 1936, com a fundação da Comissão dos Padrões da Grande Guerra, que procedeu à edificação de dezenas destes monumentos no país. A acção de exaltar a memória dos mortos em combate e de promover os ideais patrióticos seria ainda revigorada com o nascimento da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 1923. Oliveira do Hospital consagrou o seu padrão evocativo dos soldados mortos na I Grande Guerra, no dia 4 de Agosto de 1935. O monumento encontra-se edificado no centro do Largo Joaquim Ribeiro do Amaral. É constituído por uma coluna quadrangular de calcário encimada por uma esfera armilar. Em cada um dos quatro lados do capitel encontram-se embutidos a cruz da Ordem de Cristo, a cruz da Ordem dos Hospitalários, o escudo nacional com as cinco quinas e, de novo, as cinco quinas sobre a cruz dos Hospitalários. Na base da coluna existe uma gravura em bronze alusiva aos combatentes do Corpo Expedicionário Português e, mais abaixo, uma outra placa de bronze, adicionada já em 1968, da responsabilidade da Liga dos Combatentes, que recorda e glorifica os soldados mortos pela pátria, no primeiro cinquentenário do final da I Grande Guerra.