Os chocalhos presentes nesta exposição temporária temática foram gentilmente cedidos por Pedro Dias, da Bobadela, e Carlos Silva, pastor de Lagares da Beira. Estas peças carregam em si anos e anos de história. Para sermos mais precisos, estão aqui expostos espécimes do final do século XVIII até ao presente. Luís Dias, patriarca da Casa Dias, em Bobadela, Oliveira do Hospital, era pastor e moleiro. Todas as suas ovelhas bordaleiras, pretas, usavam chocalhos ou campainha, sendo que estes passaram de geração em geração, reutilizando-os e preservando-os, ao mesmo tempo. Assim, o seu filho, António Dias, prosseguiu o caminho traçado pelo seu pai, continuando a usar a “loiça” nos seus animais. A sua esposa, Alice da Conceição, era uma das queijeiras mais conceituadas da zona, vendendo os seus famosos queijos para as pessoas mais abastadas de Vila Nova de Oliveirinha e Bobadela. Um outro pastor, Luís Pimenta, de Aldeias, Gouveia, por altura da transumância, pernoitava na casa de António Dias para seu descanso e também do seu gado. Dessas paragens anuais e relação de amizade com António Dias, nasceram, estamos em crer, algumas trocas de “loiça”, como é hábito, aliás, entre os pastores. Anos mais tarde, já depois do falecimento de António Dias, um dos seus netos, Pedro Dias, amante da guarda e da memória, em boa altura achou que era chegada a hora de guardar to-das as peças dos seus bisavô e avô para memória futura. Carlos Silva, é pastor em Lagares da Beira. A vara de choca-lhos que aqui se apresenta tem tantos anos quantos a que tem de pastor e nela estão contidas as peças que geralmente tem na sua loja e que em determinada altura do ano, geralmente na Primavera e Verão, coloca no seu rebanho, composto por 84 ovelhas e 46 cabras. A “loiça” de Carlos Silva tem sido cuidada pelo seu filho Ricardo, que faz questão de a usar nas festividades ligadas à pastorícia, como o S. João das Ovelhas, na Folgosa da Madalena, concelho de Seia, e na festa de S. Geraldo, concelho de Tábua. Para além dos chocalhos e campainhas, Ricardo adorna o rebanho do pai com as bonitas ‘borlas’ (espécie de pompons feitos de lã) de linha colorida e por algumas ‘cabeçadas’ (peça em tecido e filigrana que se coloca especialmente no focinho das cabras). Estas peças são usadas maioritariamente em cabras e chibos. O S. João das Ovelhas e o S. Geraldo são festas para ‘abençoar’ o gado, para lhe trazer boa sorte durante o ano, assim como ao pastor também. Ricardo fala-nos ainda de um outro uso prático para a ‘loiça do gado’: - “assim elas puxam melhor e não se lhes dá a preguiça”, ou seja, o som constante e minimal dos badalos em contacto com o metal dos chocalhos e campainhas faz com que o gado não se distraia da sua ‘obrigação’ de comer e, desta forma, não se ‘encosta’ tão cedo para descansar. O nosso muito obrigado ao Pedro Dias, ao Carlos Silva e ao Ricardo Silva por terem dedicado um pouco do seu tempo ao empréstimo da ‘loiça’ que aqui expomos e também ao ‘empréstimo’ da sua sabedoria e conhecimento populares.